Adolescentes de centro socioeducativo treinam habilidades em corte de cabelo e barba

Jovens em medida de internação participam de curso de barbearia e praticam com os próprios colegas como modelos

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Desde o ano passado, a oficina promove a capacitação para alguns e é espaço de cuidado e beleza para outros
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Crédito: Dirceu Aurélio / Sejusp

O Centro Socioeducativo Santa Clara, no bairro Capitão Eduardo, na região Nordeste de Belo Horizonte, uniu o útil ao agradável em um curso de barbearia, oferecido a adolescentes em medida de internação por atos infracionais. Desde o ano passado, a oficina promove a capacitação para alguns e é espaço de cuidado e beleza para outros.

O ambiente onde ocorrem as lições foi montado em junho de 2019. A Vara da Infância e da Juventude da capital garantiu as doações dos equipamentos necessários: máquinas de cortar cabelo, tesouras, navalhas, lâminas, espanadores, pincéis de barba, cremes de barbear e capas de nylon. Da mesma forma, um lavatório foi cedido pelo Centro Socioeducativo São Jerônimo.

As aulas são ministradas pelo agente socioeducativo Fabiano Gonçalves, que concilia suas funções públicas com as de cabeleireiro em um salão próprio. Mais do que compartilhar seus conhecimentos técnicos, ele busca viabilizar momentos de escuta e acolhimento aos alunos. "Como sou igualmente morador de periferia, os meninos se identificam e confiam em mim. Conversamos sobre o prosseguimento da medida, a família e a vida lá fora", conta.

Crédito: Dirceu Aurélio / Sejusp

Objetivos

O curso tem duração de 60 horas, divididas entre uma pequena parte teórica e a prática de cortes de cabelo e barba, durante cerca de 20 dias. Os estilos preferidos dos adolescentes para os fios são o disfarçado, o surfista e o americano. Ao fim do ciclo, os aprendizes recebem um certificado, emitido pela ONG parceira Acesse MG, que promove formações profissionais para o público de comunidades.

Cerca de 80 adolescentes que cumprem medida no centro socioeducativo aproveitam a aprendizagem dos colegas para aparar as madeixas. Joel Pereira*, de 17 anos, utiliza os serviços com frequência. "Eu gosto de cortar o cabelo mais ou menos a cada duas semanas, dá outro visual. Para isso, tem uma fila, e a gente pede para entrar nela. Sempre tento conseguir um dia antes de receber visitas", relata.

Já aos educandos na profissão, as oficinas servem como atrativo e incentivo para o mercado de trabalho. "Nossa intenção é despertar o interesse dos adolescentes para o ofício. Que eles saiam daqui e continuem se aperfeiçoando na atividade, realizem um curso intensivo. Tivemos um jovem que seguiu esse caminho após descobrir suas habilidades conosco", afirma o diretor-geral da unidade, Júlio Gomide.

Por outro lado, existem rapazes que possuem familiaridade com a ocupação e usam a oficina de barbearia para aprimorar as habilidades. Esse é o caso de Alex Silva*, também de 17 anos, que, inclusive, auxilia o professor a orientar os demais. "Participo há meses, fiz um curso antes de vir para cá e meu objetivo agora é conhecer melhor a prática, aprender novas formas de desenvolvê-la, porque cada pessoa tem um jeito de realizar os cortes. Então, gosto de prestar atenção no que o Fabiano faz e passa para nós", diz.

Crédito: Dirceu Aurélio / Sejusp

Disciplina e trabalho

Apesar da alta demanda por participação nos cursos e nas oficinas profissionalizantes – que não se limitam à barbearia, e também abrangem áreas como informática, confecção de móveis em bambu, auxiliar de lanchonete, entre outras –, quem decide quais adolescentes estão aptos a deixar o alojamento e frequentar as aulas é a equipe técnica da unidade. Para isso, são pré-requisitos apresentar um bom comportamento e demonstrar desejo por sucesso no cumprimento da medida de internação.

Assim, aqueles que recebem o benefício de participar servem de exemplo ao restante dos colegas.

"Via de regra, o Santa Clara é um centro que tem poucas situações de risco à segurança. Percebemos que, nesses locais de profissionalização, a quantidade de ocorrências é praticamente nula. Os jovens almejam a oportunidade de qualificar sua mão-de-obra e, por isso, respeitam e cuidam desses ambientes", afirma o supervisor de segurança, Vinícius dos Santos.

Nesse sentido, o servidor reitera que os adolescentes são mais dispostos a participar de formações voltadas à profissionalização. "Eles têm urgência em começar a trabalhar, ter uma fonte de renda e ajudar a família", expõe. Além dos cursos, os internos estudam em escola regular instalada dentro da unidade. Neste ano, cinco deles foram selecionados para ocupar vagas na universidade após fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

*Nomes fictícios para preservar a identidade dos adolescentes, conforme indicação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).



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