Ambulatório Trans registra bons resultados

Rede Fhemig oferece dinâmica de atendimento elaborada em conjunto com os usuários

  • ícone de compartilhamento

O Ambulatório Trans Anyki Lima, do Hospital Eduardo de Menezes (HEM), da Rede Fhemig, realizou aproximadamente 500 atendimentos a usuários nos últimos seis meses, desde que foi ampliado o seu horário de atendimento e também a garantia de continuidade do tratamento por meio das consultas de retorno. A unidade é o primeiro serviço ambulatorial de atenção especializada no processo transexualizador da saúde pública estadual, destinado à população trans (travestis e transexuais) de Minas Gerais. 

De acordo com a gerente assistencial do HEM, Tatiani Fereguetti, a ampliação foi realizada "para assegurar que o paciente seja submetido a todos os atendimentos necessários, num período de tempo adequado às suas necessidades, garantindo-se, assim, a efetividade do cuidado”. 

Equipe do ambulatório (Crédito: Alexandra Marques)

O ambulatório recebe pessoas não apenas de Belo Horizonte, mas também de outras 53 cidades mineiras. A dinâmica de atendimento, estruturada em conjunto com os usuários, procura garantir o acesso a uma população que apresenta expectativa de vida de apenas 35 anos, por conta de processos históricos de discriminação e exclusão. A unidade atua, nesse contexto, para dar visibilidade a essas pessoas e auxiliar na prevenção e redução de danos, por exemplo, casos de automedicação com uso inadequado de hormônios, ou mesmo de utilização de silicones industriais.

Usuário do serviço, o segurança Vitor Campos, 27 anos, destaca o acolhimento tanto dos profissionais, quanto dos outros usuários. "Os profissionais nos dão todo o suporte que a gente precisa. Com a ampliação do horário de atendimento, facilitou muito a minha vida. Na rede privada, eu não tinha o suporte que tenho aqui. Não é simplesmente dar atendimento, eles dão suporte para nós e para a nossa família”, afirma.

A cabeleireira e aderecista carioca, Jullyanah Fonte, também com 27 anos, mora em Belo Horizonte há um ano. Sua história de vida mudou depois que chegou ao ambulatório trans. Graças aos contatos com usuárias do serviço, conseguiu um lugar para morar. Até então, ela e o marido estavam desabrigados. Agora, faz bicos na área de eventos e como cabeleireira. “Isso aqui (o ambulatório) é um recomeço de vida. A partir do momento que chegamos aqui, tomamos consciência dos nossos direitos, é muito gratificante para mim e para todas as meninas”, conta.

Jullyanah, que iniciou o processo de hormonização no HEM há quase cinco meses, está em processo de retificação do nome, e tem planos de fazer faculdade de Serviço Social. "Quero ajudar outras meninas a se encontrarem", reforça.

Espaço de reconhecimento

Para a coordenadora técnica do ambulatório, Andreia Reis, o serviço tem um papel fundamental na vida das pessoas por ele assistidas. “Ele representa um espaço para o reconhecimento, acolhimento e expressão de suas identidades. Local no qual elas buscam uma referência para a construção do gênero, além de ser um espaço de socialização”, explica.

Vítor é usuário do ambulatório e destaca o acolhimento da equipe e dos outros usuários (Crédito: Alexandra Marques)

O ambulatório exerce, ainda, o papel de núcleo de formação profissional. “Há muita demanda de outras instituições da região metropolitana para a capacitação de suas equipes no atendimento dessa população”, esclarece a coordenadora técnica. Além disso, o espaço produz dados que permitem situar e subsidiar as demandas na área, o que reforça sua atuação como centro formador. 

O ginecologista e especialista em sexualidade humana, Eduardo Fernandes, que atua na equipe multidisciplinar do ambulatório trans há um ano e meio, conta que é a primeira vez que vive a experiência de trabalhar nesse tipo de serviço. “Eu tive uma mudança de olhar, saí de uma ideia técnica para acolher um indivíduo que precisa se afirmar. A gente escuta mais, não é só uma questão de receber e receitar. Isso nos engrandece como profissionais”, revela. 

Também membro da equipe multidisciplinar, o psiquiatra Miguel Castro ressalta a importância da compreensão, do apoio e das orientações nas boas práticas de atendimento. “Do ponto de vista da saúde mental, essa população ainda tem uma prevalência maior de sofrimento psíquico”, reitera o médico. 

Serviço:

Ambulatório Trans Anyky Lima – Hospital Eduardo de Menezes
Atendimento: quintas-feiras, das 7h30 às 19h (Obs.: As consultas são agendadas por telefone).
Telefone: (31) 3328-5055
Endereço: Rua Doutor Cristiano Resende, 2.213, Bom Sucesso, Belo Horizonte (MG)



Últimas