Centro Socioeducativo de Unaí tem mais dois novos calouros

Trabalho desenvolvido na escola formal montada dentro da unidade de internação traz esperança de novo futuro para adolescentes

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Crédito: Divulgação/Ascom Sejusp

Pouco mais de um mês depois de dois adolescentes internos do Centro Socioeducativo de Unaí, na região Noroeste do estado, ingressarem em uma universidade federal, outros dois jovens, da mesma unidade, deram o mesmo passo rumo à independência. Lucas Daniel*, de 19 anos, e Ramon Nunes*, 18, são os mais recentes calouros do curso de Zootecnia, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), no campus de Unaí.

Lucas e Ramon têm dois sonhos um comum: largar a criminalidade e ter um diploma de médico veterinário em mãos. A nota no Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem PPL), não permitiu que eles entrassem na primeira opção de curso. No entanto, eles entendem que a Zootecnia é uma ciência próxima e que há a possibilidade de migração para a Medicina Veterinária em breve.

Cumprindo medida há um ano e dois meses, Lucas concluiu o ensino médio na unidade e fez um curso profissionalizante de eletricista predial. Ele conta que as oportunidades que a vida está proporcionando a ele, no Centro Socioeducativo, não seriam possíveis se estivesse em liberdade. “Sou muito grato por tudo e principalmente à equipe aqui da unidade que me apoiou e me incentivou na conclusão do ensino médio e também na inscrição para a universidade. Não tenho palavras para expressar a alegria em poder dar esse orgulho para a minha família”, conta.

Ramon, acautelado há pouco mais de um ano e meio em Unaí, também finalizou os estudos na escola formal da Secretaria de Estado de Educação, que está instalada dentro da unidade socioeducativa. “Eu descobri que, depois de alguns períodos cursados, eu posso fazer uma troca para a Veterinária. Essa vaga foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida porque sinto que agora estou no caminho certo”, comenta.

Além da satisfação pessoal de ingressar em um curso universitário, Ramon se emociona com a alegria proporcionada para aqueles que sempre o apoiaram. “Quero dar muito orgulho e alegria para minha mãe e para a minha família. Todos sempre estiveram ao meu lado, mesmo nos momentos mais difíceis. Vou aproveitar essa oportunidade para sair da criminalidade e ter uma vida no caminho do bem”, finalizou.

Pedagoga no Centro Socioeducativo de Unaí, Angela Melo, atuou bem próxima dos jovens aprovados na faculdade. Ela conta que toda a equipe busca sempre trabalhar com os jovens os ensinamentos sobre aproveitar as oportunidades que a vida oferece. “Nem sempre as coisas saem como gostaríamos, mas precisamos avaliar o todo e ver de que forma as alternativas disponíveis podem nos levar até nossos objetivos. Por isso é importante o trabalho que fazemos com os adolescentes - de conhecer suas ambições, desejos e medos para que possamos ajuda-los a fazer as escolhas certas”, afirma.

Orgulhoso dos resultados em sua unidade, o diretor-geral do Centro Socioeducativo de Unaí, José Adeiro da Fonseca, acredita que a dedicação dos jovens, o empenho de sua equipe pedagógica e o apoio das famílias são fundamentais para os bons resultados conquistados. “É muito gratificante perceber que esses jovens estão, realmente, empolgados e engajados nessa oportunidade longe da criminalidade. A ideia é que todos possam trilhar esse mesmo caminho e construírem uma nova história”, afirmou.

Estudantes

Em Minas Gerais, 100% dos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas nas unidades administradas pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) estudam, de acordo com diretrizes pedagógicas pensadas exclusivamente para jovens privados de liberdade.

Mais que continuidade de estudos, as escolas formais montadas dentro das unidades socioeducativas têm significado um retorno destes jovens aos bancos da escola. Cerca de 20% dos adolescentes que entram no sistema socioeducativo após a prática de um ato infracional, por exemplo, apresentam média de quatro anos de distorção entre a idade e a série em que se encontram matriculados. Além disso, quando chegam para o cumprimento das medidas, geralmente não possuem vínculo com a escola, pois já abandonaram os estudos.

Assim como os jovens que se matricularam no Enem para Pessoas Privadas de Liberdade e conseguiram vagas em universidades, todos os anos, cerca de 200 jovens são preparados para esta avaliação em Minas Gerais.

*Os nomes dos adolescentes são fictícios para preservá-los segundo indicações do Estatuto da Criança e do Adolescente



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