Polícia Civil explica processo de identificação das vítimas de Brumadinho

Preocupados com interrupção dos trabalhos, familiares solicitaram encontro para entender andamento das ações

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Crédito: Divulgação /  PCMG

A chefia da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) recebeu na quarta-feira (29/1), três integrantes da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos do rompimento da Barragem Mina Córrego Feijão Brumadinho (Avabrum), na Cidade Administrativa, em Belo Horizonte.

O objetivo foi explicar aos familiares sobre a impossibilidade de identificação de 81 dos 860 casos que chegaram ao Instituto Médico Legal André Roquette e ao Instituto de Criminalística, desde que a barragem se rompeu. Outro assunto tratado foi o traslado de partes de corpos encontradas que, até o momento, era realizado pelo rabecão e gerenciado, de forma alternada, pelo Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e pelo 2º Departamento da PCMG, em Contagem.

O superintendente de Polícia Técnico-Científica, médico legista Thales Bittencourt, sugeriu uma nova logística. “Para dar mais agilidade ao processo de transferência até o IML e ao Instituto de Criminalística (IC), agora, o traslado será realizado pelo perito responsável por comparecer ao local do encontro, quando os bombeiros acionarem e informar sobre a localização. Para isso, utilizaremos uma viatura de maneira que a cadeia de custódia continue segura, como é quando o traslado é feito pelo rabecão”, explicou.

Na reunião, o chefe da Polícia Civil de Minas Gerais, delegado-geral Wagner Pinto, detalhou os dois principais objetivos da instituição em relação ao que houve em Brumadinho. “Tínhamos duas preocupações principais: a investigação - que foi concluída com o indiciamento que apontou os responsáveis em âmbito penal - e a perícia nas vítimas, o que, atualmente é nossa prioridade. Desde os primeiros momentos, estamos fazendo o melhor, oferecendo suporte necessário para tentar amenizar um pouco o sofrimento dos familiares e dos sobreviventes”, afirmou.

Wagner Pinto ainda ressaltou o empenho de todos os integrantes da Superintendência de Polícia Técnico-Científica. “Entendemos a ansiedade, mas as pessoas às vezes não sabem como se faz identificação, acham que é simples, mas não é. Tenho acompanhado tudo e sei da excelência das ações”, descreveu.

A vice-presidente da Avabrum, Josiana Resende, é irmã de uma das vítimas fatais, Juliana Resende. A segunda tesoureira, Natália Oliveira, perdeu a irmã Lecilda Oliveira. A preocupação delas é a mesma do senhor Geraldo Resende, que também perdeu um familiar: a garantia de que, apesar das dificuldades de se extrair o DNA dos casos que têm chegado nos últimos meses, a Polícia Civil não vai desistir.

“A gente agradece muito o empenho e a transparência da Polícia Civil. Saibam que, quanto mais informações a gente consegue, mais a gente sente o acalento de que precisamos.”, destaca Natália. “As buscas não podem acabar porque, mesmo que os bombeiros parem - e sabemos que não vão parar tão cedo -, a Vale vai continuar a retirar os rejeitos e temos a esperança que continuem encontrando”, reforçou.

Após apontar as prioridades da PCMG, Wagner Pinto garantiu que os trabalhos vão continuar. “Esse trabalho não será esgotado, em hipótese alguma, até que as últimas partes de corpos sejam analisadas, chegando por meio das buscas realizadas pelo Corpo de Bombeiros ou chegando depois, de outras formas. Preservada a cadeia de custódia, nosso trabalho será realizado naturalmente. Agimos assim em todos os casos, não somente em relação a Brumadinho. Nós sempre fazemos a perícia e assim continuaremos. Isso não é só um compromisso. É um dever”, assegurou.

O médico legista Ricardo Moreira Araújo, chefe da Seção de Tanatologia Forense do IML, explicou as várias tentativas de extração do DNA dos 81 casos considerados inconclusivos. “Atualmente, o que mais tem chegado são ossos, um material a partir do qual a extração do DNA é muito difícil. Os casos que se referem ao ocorrido em Brumadinho são os mais analisados. Se fossemos seguir a orientação da literatura científica, teríamos interrompido o processo de identificação muito antes. Mas estamos fazendo o nosso melhor, para tentar levar um pouco de conforto aos sobreviventes”, enfatizou.

Segundo Araújo, o trabalho vai muito além do que a literatura previa. “Só desistimos daquelas amostras quando concluímos que, realmente, não teve jeito. Temos que focar no material que chega todos os dias, buscar as possibilidades e nos resignar com o impossível. A confiança das famílias na Polícia Civil é motivo de orgulho e é, também, um grande incentivo para seguirmos em frente”, concluiu.

O chefe do laboratório de DNA, perito Higgor Dornelas, explicou que, desde o rompimento da barragem, 860 casos chegaram ao IML/IC.  "Dos 860 casos, 819 foram finalizados, o que representa 96%; sendo que 81 são considerados inconclusivos, porque é impossível extrair o DNA”, pontuou. “Foram identificadas 259 vítimas. Além disso,  41 casos estão em processo de tentativa para identificação e 11 pessoas ainda estão desaparecidas", afirmou.



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