Setor criativo impulsiona economia em Minas Gerais

Nos primeiros 100 dias de gestão, Governo de Minas realizou ações estratégicas de incentivo à economia criativa

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Romeu Zema assumiu a gestão do Governo de Minas com a difícil missão de reerguer um Estado aparelhado, burocrático e deficitário – para 2019, está previsto um déficit bilionário no orçamento fiscal estadual. O panorama não é nada favorável e, ciente de todas as dificuldades impostas, o governo tem buscado meios para retomar a credibilidade e o crescimento econômico. Uma das alternativas, já sinalizada pelo Estado nestes primeiros 100 dias de gestão, é apostar no setor produtivo criativo.

A economia criativa compreende a exploração de atividades que englobam, por exemplo, o audiovisual, o patrimônio cultural, a gastronomia, a moda, o design, o artesanato, a arquitetura, a publicidade e as startups. Juntos, todos estes segmentos geram mais de 450 mil empregos no estado e são responsáveis por 9,84% das vagas na economia criativa no Brasil, segundo levantamento do P7 Criativo publicado em outubro do ano passado.

O estudo indica ainda que a economia criativa gera R$ 788 milhões em renda mensal para os mineiros. A gerente de Inteligência Competitiva da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Gabriela Ferreira Franco, ressalta a capacidade da indústria criativa de gerar valor. “Há um esforço especifico com objetivo de promover negócios que têm a criatividade, a inovação e o conhecimento como ingredientes para a geração de valor. A economia criativa tem o potencial de transformar ativos intangíveis, como cultura e a criatividade local, em produtos e serviços de valor agregado”, avalia Gabriela.

Na visão do analista do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae Minas), Anderson Costa Cabido, a economia criativa poderá representar a principal estratégia de diversificação econômica do estado. “As estatísticas comprovam essa tendência, necessitando uma articulação dos principais atores para acelerar esse processo e oferecer uma efetiva, viável e poderosa alternativa para a diversificação econômica”, acredita o analista, que realiza atendimentos especializados aos empreendedores que atuam, ou desejam atuar, neste setor.

Fonte: Radar da Economia Criativa - P7 Criativo

 

Créditos: Charles Torres

Fomento à inventividade

O P7 Criativo – Agência de Desenvolvimento da Indústria Criativa de Minas Gerais é resultado da articulação institucional entre Fiemg, Sebrae Minas, Fundação João Pinheiro (FJP), Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge) e Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sedectes). Trata-se de uma plataforma que conecta empresas, empreendedores e profissionais da indústria criativa. A sede definitiva do projeto será o emblemático edifício do Banco Mineiro da Produção, prédio de 25 andares e 17 mil metros quadrados no coração de BH, na Praça Sete. Para concluir as obras de reforma do edifício, foram captados R$ 17 milhões junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), sendo que R$ 7 milhões já foram repassados em março deste ano.

“Minas conta com recursos valiosos para adotar políticas de fomento aos diversos segmentos criativos, como a disponibilidade de recursos humanos bem qualificados e a existência de instituições de ensino superior, associações, conselhos e agências. Além disso, possui um valioso patrimônio cultural material e imaterial, fruto de atividades exercidas por pessoas extremamente criativas e talentosas”, observa a pesquisadora da FJP, Selma Carvalho.

Outra ferramenta de fomento ao setor é a linha de crédito Minas Criativa, oferecida pelo Banco de Desenvolvimento de Minas (BDMG). A linha é voltada para empresas nas áreas de audiovisual, música, teatro, livros, jogos digitais, design, dentre outras. "O banco apoia toda empresa que investe nesta área, oferecendo suporte financeiro necessário para que cresçam, promovam emprego e renda de forma sustentável e contribuam, efetivamente, para dinamizar a economia”, enfatiza o presidente do BDMG, Sérgio Gusmão Suchodolski.

Créditos: Arquivo Pessoal

À moda mineira

Um dos segmentos mais representativos da economia criativa em Minas Gerais é a moda. Referência nacional e internacional, a moda mineira dispõe de importante mecanismo de incentivo: o Minas Trend, um dos maiores salões de negócios do ramo no país. Empreendedores do ramo de vestuário, calçados e acessórios (joias e bijuterias) foram convidados a apresentar as tendências para a primavera/verão de 2020 na 24ª edição do evento, que acontece até sexta-feira (12/4) em Belo Horizonte.

Segundo a Codemge, Minas Gerais conta com diversas indústrias de confecção que representam a moda e a criatividade, em um trabalho que envolve desde a criação até a venda dos produtos. Como o Minas Trend é focado na comercialização, muitas empresas chegam a comercializar cerca de 70% do seu faturamento no evento. A iniciativa estimula a economia, sobretudo no interior, uma vez que as empresas crescem e geram impacto socioeconômico local.

Umas das empresas selecionadas para participar do Minas Trend, em estande coletivo, é a By My Hands, marca de vestuário do Vale do Aço adepta aos conceitos de Slow Fashion (estilo de moda sustentável) e praticante do Upcycling (reutilização criativa). “A moda mineira sempre foi referência para mim. A gente realmente dita tendência e, no meu caso, criei a marca com o intuito de fazer uma moda sustentável, genderless (sem diferenciação de gênero) e autoral”, conta a designer de moda e proprietária da marca, Patrícia Barbosa e Silva, que desenha suas próprias roupas desde os 12 anos de idade.

E esta não é a primeira vez que Patrícia está presente ao Minas Trend. No ano passado, a designer participou do salão de negócios como blogueira e pensou: “ano que vem estarei aqui”. Dito e feito. Vinda de uma família de modistas de alta costura de BH, Patrícia uniu o conhecimento familiar à experiência adquirida durante anos de vivência no exterior para ser mais uma expoente da moda mineira.

Créditos: Divulgação/Sedectes

Tradição e vanguarda

Enquanto Patrícia leva ao mundo sua moda contemporânea, a bordadeira Nilda Maria Santos Vitor mantém viva uma tradição secular no município de Ipoema. A artesã herdou de sua mãe e avó a técnica do bordado que se remete à época dos tropeiros.

Em sua terra natal, a artista transmite a herança familiar a outras artesãs por meio do Coletivo Bordadeiras de Ipoema. “É um trabalho que quase ninguém conhece, não ensinam mais estes bordados. Estamos resgatando este trabalho, que é uma tradição da família desde a época dos tropeiros”, conta. “Estou ensinando para aumentar a renda das pessoas que participam do coletivo”, completa a artesã, que também trabalha com tricô, artes plásticas e restauração de peças.

O Coletivo Bordadeiras de Ipoema é apenas uma das várias entidades participantes da III Semana do Artesão Mineiro, realizada entre de 18 a 23 de março deste ano. A ação do Governo de Minas percorreu várias regiões do estado, como o Triângulo, Sul, Vale do Jequitinhonha e Vale do Aço. De acordo com o superintendente de Artesanato da Sedectes, Thiago Tomaz Souza Chaveiro, a amplitude geográfica foi o grande diferencial do evento neste ano.

“Este governo teve a sensibilidade de manter e ampliar a Semana do Artesão que, neste ano, teve um caráter ainda mais itinerante, inclusivo, participativo e democrático”, pontua Thiago Tomaz. A terceira edição da Semana do Artesão visitou as cidades de Turmalina, Caraí, Ponto dos Volantes, Minas Novas, Uberaba, Itabira, Belo Horizonte, Andradas, Esmeraldas, entre outras. Foram realizadas exposições comemorativas, rodas de conversa, cadastros em mutirões (97) e entregas da Carteira Nacional do Artesão (113).

Créditos: Divulgação/Mooca

Berço de talentos

Com cursos de gradução e pós-graduação em Artes (Plásticas e Visuais) e Design (Gráfico, Ambientes, Móveis, Bolsas, Calçados, Gemas e Joias), a economia criativa é um dos carros-chefes da Universidade do Estado de Minas (Uemg), que completa 30 anos de fundação em setembro de 2019. Como presente, o governo anunciou, em março deste ano, a retomada das obras do prédio da Escola de Design, localizada na Praça da Liberdade, em BH. O reinício dos trabalhos é um esforço da atual gestão para acabar com uma espera de mais de cinco anos.

Após a conclusão da reforma, o prédio, com uma torre principal de 13 andares, vai abrigar, por exemplo, as aulas dos cursos Design de Ambientes, que são ministradas por um corpo docente qualificado, do qual a pesquisadora Rosângela Miriam Lemos Oliveira Mendonça faz parte. A professora organizou, em 2017, uma coletânea de artigos sobre economia criativa e, atualmente, prepara uma nova publicação. “São artigos de autores especialistas na área, pessoas de renome no mercado, vários deles professores da Uemg. Falando sobre o potencial de Minas, basta dizer que a Escola de Design da Uemg é a primeira do estado e a segunda do país”, exalta.

Formada em Design de Ambientes, Marina Montenegro é uma das egressas da Uemg que ocupam posições de destaque no mercado de trabalho. A designer fundou, ao lado de sua sócia, a Mooca, um marketplace (espaço virtual onde se faz comércio eletrônico) que comercializa produtos criativos locais. Alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU), a Mooca é um negócio de impacto social que traz visibilidade aos produtores e às suas criações. “BH tem potencial para ser capital da economia criativa. Quero ajudar as pessoas a viverem da criatividade de forma sustentável”, frisa Marina.

Com metodologia própria que promete dobrar a faturamento do pequeno produtor, a Mooca também oferece o serviço de aceleração. “A aceleração é uma ação de formação empreendedora. Oferecemos cursos e mentorias individuais em diversas áreas, como negócios e finanças, que auxiliam o pequeno produtor a se desenvolver”, ressalta Marina. O curso de aceleração dura seis meses.

Créditos: Gil Leonardi/Imprensa MG

Inovação institucional

Mais uma evidência de que o Governo de Minas reconhece a relevância da economia criativa, tanto pelo aspecto cultural quanto pelo econômico, é que, pela primeira vez, as pastas de Cultura e Turismo podem ter uma área específica para lidar com o tema. Se o projeto de lei da Reforma Administrativa (PL 367/2019) enviado pelo governador Romeu Zema à Assembleia Legislativa for aprovado, a futura Secretaria de Cultura e Turismo vai ter, em sua estrutura, a Superintendência de Fomento Cultural e Economia Criativa.

“Este sempre foi um tema transversal, mas agora queremos dar a ele uma atenção especial. É tendência no Brasil e no mundo”, frisa a subsecretária de Estado de Cultura, Solanda Steckelberg. “É uma modernização institucional ter uma área justamente para tratar do desenvolvimento da cadeia da economia criativa, é um novo desenho de administração pública que queremos implantar”, acrescenta a subsecretária.

Outro exemplo de inovação institucional – um dos pilares da nova economia ao lado do setor criativo – é o Transforma Minas, programa de gestão de pessoas que disponibiliza a qualquer pessoa, inclusive a servidores do Estado, vagas de chefia, direção e superintendência nas secretarias e órgãos da administração pública estadual direta e indireta. O programa dá continuidade ao processo que se iniciou com a seleção dos secretários e é inspirado em modelos bem-sucedidos adotados em países como Austrália, Chile e Reino Unido.

A seleção acontece exclusivamente pelo site www.transformaminas.mg.gov.br.



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