Detentos de Ponte Nova farão curso superior a distância

Parceria com universidade privada viabilizou estrutura dentro do próprio complexo prisional

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Espaço multiuso é um dos atributos do novo núcleo de ensino
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O Complexo Penitenciário de Ponte Nova (CPPN), localizado na Zona da Mata, acaba de inaugurar dois espaços que poderão ser utilizados para atividades educacionais: o polo universitário e o núcleo de ensino.

O polo é resultado de um termo de cooperação técnica entre a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), por meio do Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG), e a Universidade Norte do Paraná (Unopar). A iniciativa vai beneficiar, inicialmente, duas detentas e 17 detentos da unidade prisional, com bolsas de estudo parciais.

Divulgação / Sejusp

Os 19 futuros alunos já estão pré-matriculados nos seguintes cursos: Administração, Gestão de Produção Industrial, Teologia, Marketing, Gestão Ambiental, Pedagogia, Letras, Logística, Gestão Hospitalar, Geografia e Recursos Humanos.

A partir do Enem Prisional ou do vestibular da instituição, eles obtiveram notas para entrada na universidade. Por serem do regime fechado, a instalação do polo universitário lhes dará a chance de fazer um curso superior.

O núcleo de ensino, por sua vez, foi implantado por meio de verbas da própria unidade prisional.

A diretora de Atendimento do Complexo Penitenciário, Aline Araújo, reforça que a educação é o caminho para os presos terem um futuro melhor. A servidora tem 11 anos de experiência na unidade prisional e analisa a parceria do Depen-MG com a Unopar como uma grande conquista.

“Esse salto para o ensino superior é muito importante para o preso, seus familiares e a sociedade. Estamos quebrando preconceitos”, destaca.

Estrutura

As duas obras foram executadas com mão de obra dos detentos da unidade prisional. Estes dois novos espaços de conhecimento e formação educacional foram denominados Projeto Athena, em homenagem à deusa grega da sabedoria, da inteligência e das artes.

A universidade parceira reformou integralmente uma sala do Complexo Penitenciário e a equipou com mesas individuais, área de estudo e cinco notebooks, com acesso somente a conteúdos pedagógicos. Os alunos também receberão material didático impresso, para que possam aproveitar todo o tempo disponível, fora do horário de acesso aos computadores.

Divulgação / Sejusp

No polo universitário, o preso poderá fazer cursos a distância de outras instituições de ensino. Existe, ainda, a possibilidade de eles prestarem novamente o Enem Prisional, para tentarem a obtenção de bolsas de estudo com descontos maiores.

O gestor do polo da Unopar no Complexo Penitenciário, Pedro Victor Rodrigues, considera o projeto uma importante conquista para a formação educacional das pessoas privadas de liberdade.

“Estamos muito orgulhosos da implantação dos cursos a distância dentro da unidade prisional. É uma iniciativa pioneira na nossa instituição”, afirma.

Já o núcleo de ensino conta com sala para a pedagoga da unidade e um espaço multiuso, no qual há uma estante com livros de literatura e obras de referência e mesas para estudos individuais e em grupo. Também está prevista a instalação de computadores para realização de cursos técnicos, por meio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG) - Campus Ponte Nova.

Reencontro

Douglas Freitas, 29 anos, está preso há um ano e cinco meses no Complexo de Ponte Nova e foi lá que obteve o certificado de conclusão do ensino médio, por meio do Exame Nacional de Certificação de Competência de Jovens e Adultos (Enceja). Ele voltou a estudar dentro do complexo, no segundo endereço da Escola Estadual Professor Raymundo Martiniano Ferreira. Após a certificação, prestou o Exame Nacional do Ensino Médio para detentos do Sistema Prisional (Enem PPL) e conseguiu classificação para o curso de Gestão de Produção Industrial.

O detento atribui grande parte do seu empenho nos estudos a um encontro inusitado. “Meus professores de artes e matemática, do tempo de adolescente, trabalham atualmente na escola do presídio. Reencontrá-los, em sala de aula, foi uma forte emoção. Eles me incentivaram a persistir nos estudos e seguir em frente”, relata Douglas Freitas.

Ana Paula Lisboa, 25 anos, é outra futura estudante e fará o curso de Gestão Hospitalar. “Muita gente pensa que ser preso representa o fim. Para mim, foi o recomeço. Vou agarrar com tudo a oportunidade de fazer um curso superior”, revela.

Outro detento que concluiu o ensino médio na unidade prisional foi Maurício Caetano Fonseca, 23 anos. Ele optou pelo curso de Pedagogia por acreditar na Educação como uma forma de transformação das pessoas e do mundo. “Minha escolha teve também a influência da nossa pedagoga, Rita de Cássia, que com seu profissionalismo e dedicação conquista os alunos. Senti vontade de seguir seu exemplo”, conta o futuro pedagogo.

Dos 19 detentos classificados para os cursos de graduação a distância da Unopar, oito concluíram o ensino médio na escola estadual instalada no Complexo Penitenciário de Ponte Nova, que dispõe de quatro salas de aula.



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