Estado reforça política de atendimento humanizado a pessoas em situação de rua

Exemplo de Juiz de Fora, na Zona da Mata, corrobora ideia de que a rede pública de saúde é porta de entrada para tratamentos  

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Imagine a cena: João chega ao Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) querendo receita de remédio que melhore a ardência ao urinar.  Após uma conversa inicial, ele é convencido a passar pelos testes de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s).

A psicóloga Daiana Castilho Gonçalves Mancini, que faz aconselhamento no CTA  de Juiz de Fora há seis anos, diariamente atende pacientes preocupados com a possibilidade de terem contraído alguma infecção sexual, muitos deles em situação de rua. Por meio de acolhimento e condução humanizada, ela vai tentando tornar menos difícil a situação dessa parcela da população.

“É visível a tensão do paciente que chega ao serviço, ou por vergonha de ter tido uma relação desprotegida, ou por medo do resultado do exame. Quando o usuário é acolhido, ele começa a falar sobre seu comportamento, seus medos", revela. 

A psicóloga afirma que, nesse ponto do atendimento, diz que nenhum ser humano é vigilante o tempo todo e que falhas irão ocorrer. "Apresento estratégias de prevenção que podem ajudar. E reforço que juntos chegaremos a uma forma ideal para o caso específico dele (paciente). Então, quando chegamos ao final do atendimento, o paciente diz: ‘Como estou aliviado. Como você me ajudou.’”.

Política de humanização

Há 20 anos, em 2003, foi criada a Política Nacional de Humanização (PNH), também chamada de HumanizaSUS. É um programa, segundo a própria definição, voltado para a valorização dos usuários, trabalhadores e gestores no processo de produção de saúde. 

“Valorizar os sujeitos é oportunizar uma maior autonomia, a ampliação da sua capacidade de transformar a realidade em que vivem, por meio da responsabilidade compartilhada, da criação de vínculos solidários, da participação coletiva nos processos de gestão e de produção de saúde”, descreve o site do HumanizaSUS. 

SRS Juiz de Fora 

A Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Juiz de Fora, por meio do Núcleo de Atenção à Saúde, trabalha dando apoio aos municípios para o desenvolvimento das políticas para as populações em situação de vulnerabilidade. 

O Estado atua com a Política Estadual de Promoção da Saúde, fazendo o repasse de recurso financeiro. São elencados também o fomento e a implementação das Políticas de Promoção da Equidade em Saúde, que são um conjunto de ações e programas pensados para promover o respeito à diversidade e garantir o atendimento integral a populações em situação de vulnerabilidade e desigualdade social.

O superintendente da regional, Renan Guimarães de Oliveira, enfatiza a relevância da humanização no SUS. 

“A aplicação dessa política é muito importante. É preciso inovar e renovar as nossas práticas para fazer com que o usuário seja bem atendido. E que ele seja devidamente encaminhado na rede SUS, para que os seus problemas sejam resolvidos, principalmente aqui na nossa região”, salienta de Oliveira.

A regional, ainda, por meio dos Núcleos de Atenção à Saúde e Vigilância Epidemiológica em conjunto com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), mantém projeto de extensão em que se trabalha especificamente com população em situação de vulnerabilidade. Já foram realizados seminários e atividades com profissionais de saúde dos municípios que compõem a regional, visando o desenvolvimento dessas ações. Atualmente, as atenções estão voltadas para as pessoas em situação de rua com IST’s.

Porta de entrada

A psicóloga Daiana frisa o papel de um olhar mais humano no atendimento: “tratamos a humanização como a porta de entrada do atendimento, principalmente no aconselhamento pré e pós teste. Havendo resultado positivo, seja para HIV, sífilis ou hepatites, é necessária a adesão do paciente  ao tratamento”, explica.

Não havendo a devida atenção, todo o tratamento fica comprometido. 

“Se nesse primeiro atendimento o usuário não encontrar acolhimento, não teremos adesão ao tratamento. Até porque, após o diagnóstico, todo paciente passa por um processo de luto, que deve ser trabalhado pelos profissionais ao longo do tempo” alerta Daiana Mancini.  

Para a psicóloga, “a humanização prevê interação entre a equipe multiprofissional e a comunicação entre todos é revista a todo momento. Essa interação fortalece o serviço, pois a equipe luta para dar certo o trabalho.  Estamos na era dos protocolos que muitas vezes engessam os atendimentos em vez de nortear. Com a humanização implementada, o sujeito se torna o foco e não o protocolo. A fala do paciente tem muito peso. Respeitamos o sujeito na sua composição biopsicossocial”, finaliza.
 



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