Ensino remoto e a escola: lições aprendidas e laços fortalecidos, apesar da distância 

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Nesta segunda-feira (15/3) é comemorado o Dia da Escola, data que recorda o papel que as unidades de ensino têm no desenvolvimento de todos os indivíduos. Em um momento de desafios como o atual, essa função se fortalece ainda mais, como mostram histórias de estudantes, professores, diretores e pais de alunos da rede pública estadual de ensino mineira.

Há um ano, a pandemia de covid-19 trouxe a necessidade do isolamento social, do fechamento das escolas e da suspensão das atividades de forma presencial. Em Minas Gerais, para garantir a continuidade do processo de ensino e aprendizagem dos alunos, a Secretaria de Estado de Educação (SEE/MG) desenvolveu diferentes ferramentas pedagógicas para o ensino remoto. A implantação das estratégias foi avaliada por estudos nacionais como uma das mais positivas, feita de forma responsável e cuidadosa para que o estudante não perdesse o vínculo com a escola.

Nada substitui a relação presencial entre aluno e professor e, neste momento de isolamento social, gestores, educadores, alunos e comunidades escolares vêm se reinventando para que, mesmo com a distância física, essa relação seja fortalecida.

Novos vínculos

Silvio César Teixeira de Oliveira é professor de Matemática há cerca de 15 anos. Atualmente, ele dá aula na Escola Estadual José Ferreira Mendes, localizada na zona rural de Caratinga. O educador acredita que com a suspensão das aulas presenciais foram instituídos novos vínculos entre a escola, professores e alunos. “A ausência física acabou criando um tipo de laço que não tínhamos antes, os laços foram além, eles foram ampliados. Um outro jeito de conviver. Hoje, estou na cozinha do aluno, na sala da casa dele de forma remota. A nossa relação está além de um espaço físico definido”, afirma.

Ao longo de um ano de ensino remoto, Silvio tem muitas histórias para contar. Todas demonstram a vontade de seus alunos em aprender, além de evidenciarem a presença da escola em suas vidas em diferentes momentos. “Com as aulas remotas, acabamos entrando pelas telas nas casas dos nossos alunos, coisa que não poderíamos fazer em tempos normais. Acompanhamos o desenvolvimento e a participação de cada estudante na realização das atividades. Eu ficava muito feliz e emocionado quando percebia que, mesmo nas situações mais difíceis, meus alunos não deixavam de estudar”, recorda. 

Ele destaca, ainda, sua paixão pela profissão. “Sou professor porque acredito que a educação pode transformar. Com a experiência que estamos tendo, vimos que não precisamos mais nos prender à sala de aula. Isso não vai se fechar mais”, afirma.

Uma das alunas de Silvio é Maria Luísa de Sousa Lopes, estudante do 7º ano do ensino fundamental. Seus pais são trabalhadores rurais e, quando precisam se deslocar para a colheita, a jovem vai junto e, enquanto eles trabalham, ela estuda. “Eles levam um lençol para eu sentar, água gelada e comida. Colocamos tudo em uma sombra para que eu possa fazer minhas atividades. Sei da importância dos estudos e eles não são deixados de lado. Qualquer lugar é lugar para estudar”, ressalta a estudante.

A dedicação e a paixão de Maria Luísa pelos estudos têm grande influência dos pais. “Mesmo nesse período de pandemia, a escola está sempre presente. Eles ligam para saber se ela está tendo dificuldades. Dão, realmente, atenção e importância para o aluno e, com isso, a Maria Luísa conseguiu aprender muito”, conta a mãe Regislaine de Sousa Rezende.

Luís Mário de Freitas Santos, aluno do 8º ano do ensino fundamental, também da Escola Estadual José Ferreira Mendes, entende que a unidade de ensino tem papel primordial no seu desenvolvimento. Nem mesmo a pandemia conseguiu atrapalhar seu sonho: ser representante de turma. “Queria ajudar mais a escola e no ano passado tive que encontrar formas de fazer isso”, revela o estudante. 

Mesmo com pouca idade, Luís Mário foi líder. Motivou seus colegas a entregarem as atividades propostase, sempre que tinha oportunidade, falava sobre a importância da escola e dos estudos. “Quando percebia que os colegas estavam se afastando, eu os chamava para conversar. Sei que consegui ajudar a minha escola assim”, conta.

Projetos 

Na Escola Estadual Haydée Maria Imaculada Schittini, no município de Ipatinga, a realização de projetos pedagógicos foi a estratégia utilizada para que a unidade de ensino pudesse exercer sua função do dia a dia dos estudantes, como conta a diretora Flaviane Gonçalves. “Mesmo com todos os desafios, a escola esteve presente com os alunos o tempo todo e tivemos sucesso em nossas ações”.

Flaviane destaca algumas histórias com exemplos de estudantes que mostram os resultados positivos dos projetos realizados. “Teve um aluno que não estava participando das atividades e que não se envolvia nas aulas. Quando iniciamos com o projeto, ele se interessou e começou a ser nosso editor de vídeos. A partir daí, ele se sentiu pertencente à escola e começou a fazer as atividades propostas nos Planos de Estudos Tutotados (PETs)”, relata.

Olhar diferenciado

O histórico da Escola Estadual Arthur Fernandes, no município de Coronel Murta, é de acolhimento. Segundo a gestora da unidade de ensino, Eliabe Rodrigues Araújo, o Regime de Estudo não Presencial ajudou a conhecer famílias e alunos de maneira mais próxima, mesmo que a distância. “A gente sabe as realidades de cada um, mas passamos a conhecer de uma forma mais próxima, mais de perto, a rotina deles. A partir daí, criamos estratégias que pudessem somar às possibilidades de aprendizagem dos estudantes”, ressalta.

A diretora também conta que, com o ensino remoto, os pais passaram a ter um olhar diferenciado para a escola. “Levamos o dia a dia da escola para dentro da casa dos alunos. Antes, os pais tinham a ideia do desempenho dos filhos, mas não tinham noção de como era a rotina pedagógica. Quando eles começaram a ver, entenderam a importância da escola, do professor, do contexto social e como a escola é importante para que o aluno crie laços de respeito, ética, convivência e tempo. O olhar dos pais será outro quando voltarmos para o presencial”, conclui.