Cordisburgo tem exposição sobre viagem de Guimarães Rosa pelo sertão mineiro

Mostra “Viagem de 1952 – A Boiada” tem fotografias da viagem que inspirou diversas obras do escritor mineiro. Exposição vai até janeiro de 2023

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Ronaldo Alves

O Museu Casa Guimarães Rosa, localizado no município de Cordisburgo, na região Central de Minas, exibe ao público a exposição temporária “Viagem de 1952 – A Boiada”. A exposição traz para o público fotografias da viagem realizada por Guimarães Rosa, em maio de 1952, ao sertão de Minas Gerais, para acompanhar a travessia de uma boiada da fazenda da Sirga (Andrequicé, distrito de Três Marias), de propriedade de seu primo Chico Moreira, até a fazenda São Francisco, em Araçaí. Nesse percurso de 240 quilômetros, o escritor registrou centenas de anotações em uma cadernetinha de bolso, que trazia pendurada ao pescoço.

O escritor anotou em detalhes observações, cenas e, inclusive, datas, horas e léguas percorridas. O conjunto dessas notas de viagem denominou de “Boiada”. Essa viagem pelo sertão mineiro ganhou, na época, as páginas da revista “O Cruzeiro”, com reportagem do jornalista Álvares da Silva e fotografias de Eugênio Silva. O jornalista e o fotógrafo cobriram os últimos dias da travessia da boiada e as imagens produzidas naquela ocasião estão reproduzidas na mostra exibida pelo Museu Casa Guimarães Rosa.

A comitiva que Guimarães Rosa acompanhou era formada por oito vaqueiros: Manoel Nardy, mais conhecido como Manuelzão, o capataz; João Henrique Ribeiro, o Zito, "guieiro", poeta, laçador e cozinheiro; Raimundo Ferreira de Nascimento, o Bindóia, "campeiro", cantador de versos, animador da boiada e mais cinco vaqueiros – Sebastião Leite de Morais: "Olhando boi a vida inteira"; Gregório Leite de Moraes: "silencioso"; Aquiles Luiz de Carvalho: "violeiro, dançador de lundu e cantador de desafio"; Raimundo Santana: "vaqueiro-mestre"; Sebastião Alves de Jesus: "aprendiz de vaqueiro".

A Boiada representa um inventário informal da fauna e da flora, uma cartografia do sertão mineiro na década de 1950 e uma descrição que enaltece a vida sociocultural sertaneja. As anotações na cadernetinha de Guimarães Rosa transportam o leitor para o sertão de Minas, por meio de descrições minuciosas e poéticas.

Guimarães Rosa foi buscar exatamente a natureza menos manipulada, menos transformada pelo modelo capitalista.  Viajou para o sertão de Minas, para a região de sua terra natal, Cordisburgo, a cidade do coração, outrora Vista Alegre. Ao invés do carro, uma mula; ao invés do urbano, o rural; em vez de diplomatas, vaqueiros e bois; ao invés de documentos oficiais, anotações.

Ao retornar ao Rio de Janeiro, onde residia, o escritor datilografou e organizou todas as anotações de “Boiada”. Ao longo do tempo ia aproveitando as notas de viagem produzidas durante o manejo da boiada na criação de seus livros, anotava e cobria o texto com hachuras, tornando os datiloscritos coloridos e graciosos.

As novelas Campo Geral, Uma Estória de Amor, O Recado do Morro, A Estória de Lélio e Lina, Cara de Bronze, Dão-Lalão e Buriti, que compõem Corpo de Baile e o livro Grande Sertão: Veredas, ambos publicados em 1956, reproduzem e recriam várias anotações da Boiada. A leitura dessas obras traduz com sabedoria, sensibilidade e sentimento a genialidade de Guimarães Rosa, a cultura popular e a exuberância do Cerrado brasileiro.

 

Ronaldo Alves

Museu Casa Guimarães Rosa

Inaugurado em 1974, o Museu Casa Guimarães Rosa está localizado na cidade de Cordisburgo. A instituição é dedicada à preservação da memória biográfica e literária de um dos maiores escritores da literatura nacional. Os documentos, fotografias e objetos do acervo do museu refletem aspectos da vida pessoal de Guimarães Rosa, além de sua atuação profissional como médico, escritor e funcionário do Ministério das Relações Exteriores.

O Museu Casa Guimarães Rosa está instalado na casa onde Guimarães Rosa nasceu e viveu os primeiros anos de sua infância (1908 – 1917). O edifício é composto pela residência onde a família Guimarães Rosa habitava e pela venda mantida pelo pai do escritor, “seu” Florduardo, ou simplesmente “seu Fulô”.

No museu, o visitante tem a oportunidade de conhecer o universo mágico do sertão mineiro, onde Guimarães Rosa nasceu e se formou. Da infância na “venda do seu Fulô”, onde ouvia as histórias fantásticas dos vaqueiros e fregueses de seu pai, à atuação como cônsul no Rio de Janeiro, Hamburgo, Bogotá e Paris, a vida do escritor está retratada no acervo, nas exposições e nas ações que o museu desenvolve.

Atualmente, o Museu Casa Guimarães Rosa exibe a exposição de longa duração Rosa dos Tempos, Rosa dos Ventos, que proporciona uma imersão nos espaços residenciais da família Guimarães Rosa e na literatura de seu membro mais ilustre. O universo rosiano e sertanejo se mesclam oferecendo ao público uma mostra da genialidade de Guimarães Rosa como escritor, médico, cônsul, pai, filho, marido e membro da Academia Brasileira de Letras.

Serviço

Exposição “Viagem de 1952 – A Boiada”

Data:
7/2022 a 1/2023

Local: Sala de Exposições Temporárias do Museu Casa Guimarães Rosa – Rua Padre João, 744 – Cordisburgo (MG)

*Este conteúdo foi produzido durante o período de restrição eleitoral e publicado somente após a oficialização do término das eleições.



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