Estudo revela espécies raras, ameaçadas e endêmicas em Unidades de Conservação da Serra do Espinhaço
Linha de Base Ornitofaunística busca aprofundar o conhecimento sobre as aves residentes e migratórias, além de mamíferos
Um levantamento inédito sobre a fauna da Serra do Espinhaço revelou a presença de espécies raras, ameaçadas de extinção e endêmicas em unidades de conservação (UCs) localizadas em uma das regiões mais biodiversas de Minas Gerais.
A pesquisa científica teve como foco principal o Parque Estadual Serra do Intendente, no município de Conceição do Mato Dentro, e é fruto de uma parceria entre a Prefeitura de Conceição do Mato Dentro e o Instituto Sustentar, com apoio institucional do Instituto Estadual de Florestas (IEF). O projeto também incluiu o Parque Natural Municipal do Tabuleiro e o Monumento Natural Municipal da Serra da Ferrugem.
Os resultados foram publicados em um livro impresso e distribuído para escolas e instituições do município. A versão digital está disponível gratuitamente aqui.
O estudo Linha de Base Ornitofaunística buscou aprofundar o conhecimento sobre as aves residentes e migratórias que utilizam a Serra do Espinhaço como rota de alimentação, reprodução e descanso, além de registrar mamíferos da região. Durante um ano, os pesquisadores utilizaram métodos como anilhamento de aves, censos populacionais e armadilhas fotográficas.
Entre os principais registros da pesquisa estão mamíferos ameaçados de extinção, como o lobo-guará e o tamanduá-bandeira, além de um achado inédito: o macaco sauá-de-cara-preta, uma espécie considerada rara, registrada pela primeira vez na região. No grupo das aves, foram identificadas 242 espécies, entre elas a águia-cinzenta, o gavião-de-penacho e o gavião-pega-macaco, todas em risco de extinção.
"A diversidade observada é resultado da sobreposição de diferentes biomas — Mata Atlântica, Cerrado e campos rupestres — o que torna a região um ponto estratégico para a conservação da biodiversidade e o turismo de observação de aves", analisa o biólogo Lucas Carrara, responsável pela pesquisa.
Uma das descobertas mais interessantes foi o registro do rei-dos-tangarás, um híbrido natural entre o soldadinho, típico do Cerrado, e o tangará, endêmico da Mata Atlântica, o que reforça o papel da Serra do Espinhaço como área de transição ecológica.
Unidades de conservação como pilares da biodiversidade
A pesquisa também destaca a importância das diferentes unidades de conservação da região para a proteção de espécies específicas. "Algumas espécies são praticamente restritas a essas áreas. É o caso do raríssimo pedreiro-do-Espinhaço, que ocorre somente nas porções mais elevadas do Parque Estadual Serra do Intendente, do Parque Nacional da Serra do Cipó e da APA Morro da Pedreira", diz a bióloga Luciene Faria, especialista em aves da Serra do Cipó.
Já determinadas aves da Mata Atlântica foram registradas apenas em áreas mais florestadas, como a Serra da Ferrugem, que abriga ecossistemas ferruginosos altamente ameaçados pela mineração, reforçando a importância das diferentes unidades de conservação na região.