Movidas pelo amor à terra, mulheres escolhem o caminho do campo
No mês em que é comemorado o Dia Internacional das Mulheres Rurais, produtoras mostram o protagonismo feminino na agricultura familiar
Elas sempre estiveram presentes na lida do campo, roçando, plantando, colhendo e cuidando da família. Por muitos anos, permaneceram invisíveis aos olhos da sociedade, mas agora assumem o protagonismo no agro. Se no passado caminhavam atrás dos maridos, hoje lideram ao lado ou à frente deles - e também sozinhas - o trabalho nas propriedades rurais. Em outubro, mês marcado pelo Dia Internacional das Mulheres Rurais (15/10), é tempo de celebrar a força e determinação delas no campo.
A data, instituída pelas Organização Nações Unidas (ONU), mostra a importância da atuação feminina no campo, contribuindo para a segurança alimentar, a promoção do desenvolvimento sustentável e a preservação da biodiversidade. “As mulheres são o esteio das famílias e interferem positivamente nos processos de sucessão. Mais organizadas e apaixonadas pelo que fazem, elas vieram para ficar e mudaram para melhor o tom, as cores, o ritmo e o desenvolvimento do agro”, destaca o secretário de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Thales Fernandes.
Entre as mulheres da agricultura familiar, a maioria nasceu nas áreas rurais, onde seguem trabalhando e alçando voos. Mas existem também aquelas que, movidas pelo amor à terra ou pelas oportunidades de geração de renda, migraram dos centros urbanos..
A pequena produtora rural Helenice das Dores dos Santos, 54 anos, é uma delas. Depois de atuar por mais de duas décadas como corretora de imóveis em Patrocínio, na região do Alto Paranaíba, ela decidiu, em 2018, morar na propriedade rural adquirida com o marido, nos arredores do município. “Mas, em 2022, larguei tudo e resolvi trabalhar no campo. Gosto da vida na roça e queria ressignificar a minha vida. Para isso teria de ter uma renda”, conta.
A primeira tentativa foi a criação de gado de corte, mas não deu certo. Helenice buscou, então, orientação da Emater, que apontou uma direção: a produção de queijos artesanais. “Sem nunca ter tirado leite de uma vaca, fiz cursos, mergulhei em estudos sobre o assunto e consegui a certificação”, lembra. Hoje Helenice tem uma queijaria que fabrica, por dia, 28 a 30 quilos de Queijo Minas Artesanal do Cerrado.
A atividade gera um faturamento mensal de R$ 25 mil, com o trabalho feito exclusivamente pela produtora. É ela quem levanta às 5h30 da manhã para botar a mão na massa na queijaria e tomar conta da propriedade. Um funcionário se dedica à ordenha. Depois, Heloísa pega o volante e transporta sozinha a produção, que é vendida em supermercados, empórios, restaurantes e escolas da região, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escola (Pnae).
Foi a ex-corretora que bateu o pé na decisão de ser agricultora familiar. “A iniciativa foi minha. Não me arrependo. Estou apaixonada e muito feliz com o trabalho no campo. Acho que vem de família, pois meus antepassados faziam queijos”, conta Helenice, mãe de dois filhos adultos.
A labuta na queijaria já rende também premiações. Helenice foi classificada em 2º e 5º lugares no Concurso Queijo Minas Artesanal no cerrado, nas edições de 2024 e 2025, respectivamente. Enquanto isso, o marido Nilson Humberto de Souza, grande apoiador de Helenice, prefere continuar pegando a estrada para trabalhar como eletricista em Patrocínio. No entanto, planeja se dedicar integralmente à propriedade rural, estimulado pela força e garra da mulher.
Apoio da Emater-MG
Ao longo de sua trajetória, a Emater, órgão vinculado à Seapa, tem dedicado especial atenção ao público feminino. As ações de extensão rural voltadas para as produtoras envolvem apoio para acessar mercados públicos, fazer compras coletivas, desenvolver atividades econômicas diversas, além de valorizar o resgate de saberes locais, estimulando o empoderamento e o protagonismo feminino.
A Emater promove, por exemplo, encontros locais e regionais, com público que varia de 30 até mil mulheres. Um exemplo é a Semana da Mulher Rural, que acontece em Viçosa, durante a Semana do Fazendeiro.
Em 2023, foi criado um grupo de trabalho para discutir e fazer proposições para a pauta feminina. Perceberam, então, a necessidade de trabalhar internamente uma abordagem específica para as mulheres, que está sendo sistematizada na Metodologia Participativa de Extensão Rural para o Desenvolvimento Sustentável (Maxpar) – ferramenta pedagógica e metodológica da Emater-MG para orientar a atuação de extensionistas no campo. A versão atualizada do guia será publicada neste ano.