Novas espécies de jararaca impactam pesquisas da Funed 

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Pesquisadoras da Fundação Ezequiel Dias (Funed) estão envolvidos com pesquisas biotecnológicas que têm como base o veneno de duas novas espécies de serpentes.   

O trabalho teve início a partir da descrição das jararacas, publicada pela Revista Fapesp, resultado de trabalho conduzido por um grupo de pesquisadores e liderado pelos biólogos Fausto Barbo e Felipe Grazziotin, do Instituto Butantan.

Uma delas recebeu o nome científico Bothrops jabrensis e só é encontrada em uma área muito pequena no interior da Paraíba. A outra, chamada Bothrops germanoi, existe apenas em uma ilha, também muito pequena, conhecida como ilha da Moela, no litoral de São Paulo.

A bióloga e chefe do Serviço de Coleção Científica e Popularização da Ciência da Funed, Giselle Agostini Cotta, explica que a descrição de uma espécie tem como objetivo apresentar um novo organismo, explicando como ele difere das apresentadas anteriormente. “Atualmente, as descrições de espécies envolvem análises morfológicas, além das modernas técnicas moleculares. Nas serpentes, são comumente avaliados o padrão e a contagem das escamas, a coloração do animal, características do órgão copulador e a estrutura craniana. A descrição formal da espécie recém-descoberta ocorre por meio de um artigo científico e, nele, são apresentadas fotografias, ilustrações, além das características que definem o nome do organismo”, detalha.

Para a pesquisadora Luciana Souza de Oliveira, que atua no Serviço de Bioquímica de Proteínas de Venenos Animais (SBVA) da Funed, a descrição dessas duas novas espécies de jararaca é importante para o avanço da ciência como um todo, pois gera conhecimento a partir do fato. “Com base nos estudos com os venenos obtidos dessas novas espécies, poderemos compreender melhor o papel das toxinas presentes nos venenos das serpentes desse gênero e até mesmo descobrir novas moléculas com potencial biotecnológico”, afirma.

Avaliação

A equipe do SBVA trabalha com venenos de serpentes Bothrops brasileiras e peruanas, com foco em elucidar as propriedades moleculares e farmacológicas das proteínas presentes nesses venenos. “No laboratório, avaliamos a ação de proteínas enzimáticas e não enzimáticas isoladas dos venenos das serpentes na função plaquetária e ativação de macrófagos (células de defesa do sistema imune). Além disso, verificamos o potencial biotecnológico dessas moléculas como agentes antitrombóticos e antimetastáticos”, explica Luciana.

A pesquisadora Márcia Helena Borges, do Serviço de Proteômica e Aracnídeos da Fundação, lembra que, há mais de um século, a Funed tem como um dos objetivos desenvolver estudos com venenos animais. “Esses estudos incluem a busca de moléculas bioativas presentes nessas misturas, que apresentam potencial biotecnológico e também trabalhos envolvendo a produção de antivenenos. Por isso, essa descoberta é de amplo interesse para nossa instituição, que poderá realizar estudos de relação filogenética e ampliar conhecimento envolvendo os venenos de serpentes”, acredita.

Soro 

No SPAR, são desenvolvidas pesquisas com venenos de serpentes e aracnídeos. Especificamente sobre os venenos de serpentes, existem projetos que visam à caracterização do soro produzido na Funed, bem como do veneno utilizado para a imunização dos cavalos. Em ambos os estudos, o objetivo principal é contribuir para que seja garantida a qualidade do antiveneno produzido pela Fundação. “A caracterização dos venenos das novas espécies descritas trará, em nível molecular, mais conhecimento com relação à estrutura e, principalmente, à função dessas moléculas, que ficaram isoladas e sofreram pressões diferentes de outras espécies". 

A pesquisadora destaca ainda que comparações em nível molecular e funcional entre essas espécies e as já descritas trarão conhecimentos que poderão direcionar nossos estudos futuros para o desenvolvimento de produtos de interesse biotecnológico e também para o desenvolvimento de novas estratégias antivenenos.

Preservação da biodiversidade

De acordo com os biólogos que descreveram as novas serpentes, elas já podem ser consideradas espécies em extinção. Giselle Cotta lembra que, o fato de as duas espécies recém-descritas serem de regiões restritas e sujeitas ao impacto da ação humana já é um indicativo do risco de desaparecerem. Isso sinaliza a necessidade de medidas de preservação dos ambientes em que ocorrem para a manutenção de ambas as espécies.

A Coleção Científica de Serpentes da Funed possui mais de 4,3 mil animais e está acessível a pesquisadores de todo o Brasil”, acrescenta Giselle.