Pesquisa  da Funed investiga impacto ambiental causado por remédios

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Durante pesquisas para a fabricação de um remédio, a Fundação Ezequiel Dias (Funed) responde a questões como efetividade para o tratamento ao qual se destina,  possíveis efeitos adversos e se ele poderá ser fornecido a um custo justo para a população. Há, ainda, uma outra questão fundamental: qual é o impacto que esse medicamento pode gerar ao ser descartado no meio ambiente?

A pergunta foi tema de artigo com participação de pesquisadores da Funed no periódico Research, Society and Development, intitulado: Os efeitos tóxicos do antirretroviral nevirapina e um medicamento à base de nevirapina para organismos aquáticos.

Juliana Souki Diniz, do Serviço de Farmacovigilância e Estudos Clínicos da Funed, é uma das autoras do artigo e explica que, embora o estudo enfoque um ingrediente ativo farmacêutico e um medicamento, ele servirá como base para análises de toxicidade de outros fármacos. “É fundamental que a Funed, que é também uma indústria produtora de medicamentos, conheça os níveis de toxicidade do que produz. A nevirapina, que já foi produzida pela Funed no passado, é indicada para alguns casos de transmissão materno-fetal de HIV no Brasil e largamente utilizada por 35% dos pacientes que vivem com HIV no mundo. Mas conhecer esses impactos no meio ambiente nos faz pensar de forma mais assertiva toda a cadeia, independente do medicamento a ser pesquisado”, explica.

Ciclo

Marcos Paulo Gomes Mol, pesquisador da Divisão de Ciência e Inovação da Funed e que também participou do estudo, lembra que, atualmente, o conhecimento do medicamento a ser comercializado tem que contemplar todo o ciclo, da produção ao uso racional pelo paciente até o descarte. “Podemos pensar o descarte enquanto resíduo da indústria, mas também temos que considerar o descarte feito pelos usuários, que excretam esses resíduos que vão diretamente para o sistema de esgotos e que os tratamentos convencionais não conseguem remover. Assim, cada medicamento pode alterar os mananciais e a vida das pessoas de forma diferente, por isso a importância de conhecermos a toxicidade ambiental dos fármacos”, afirma.

Marcos lembra ainda que, no caso do resíduo industrial, esse acompanhamento é mais fácil de controlar, pois é feito em uma área limitada e com variáveis conhecidas. Já o controle da presença dos fármacos que chegam ao sistema de esgoto é mais difícil, uma vez que ele é pulverizado em diferentes regiões das cidades e cursos d’água.

Exemplos

O estudo apresentado pelos pesquisadores avaliou a toxicidade em três níveis de organismos aquáticos: Chlorella vulgaris (microalga), Artemia salina (microcrustáceo) e Aliivibrio fischeri (bactéria).

Por meio do estudo, os pesquisadores concluíram que é possível implementar o monitoramento da toxicidade ambiental de micropoluentes na rotina industrial, por meio de testes de toxicidade padronizados e economicamente acessíveis, que oferecem agilidade e praticidade na análise de efluentes. “Nossa expectativa, agora, é que o estudo funcione como uma plataforma que sirva de base para a análises do nível de toxicidade de outros medicamentos, que possa ser usada tanto na avaliação de cursos d’água urbanos, como em efluentes industriais”, afirma Juliana. A pesquisadora destaca ainda a parceria firmada entre a Diretoria Industrial e a Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento  da Funed, por meio da atuação do Serviço de Ecotoxicologia , que está abrindo essas perspectivas de análise para a Funed junto com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Além de Juliana e Marcos, o pesquisador Leonardo Alvarenga de Paula Freitas, do Serviço de Desenvolvimento Analítico e Estudo de Estabilidade da Funed também participou no artigo. Os pesquisadores agradecem a participação das analistas Danielle Evangelista, Jociene Silva São José e Larissa Toledo, além dos pesquisadores da UFMG. Clique aqui e acesse o artigo na íntegra e em português.