Pesquisa pioneira abre caminho para novas abordagens de traumatismo cranioencefálico
Uma pesquisa pioneira conduzida pelo grupo de estudo de lesões encefálicas traumáticas de Minas Gerais, que reúne pesquisadores da Faculdade de Medicina e do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do Hospital João XXIII (HJXXIII) e da Santa Casa de Belo Horizonte, abre caminho para novas perspectivas de abordagem do traumatismo cranioencefálico (TCE) leve.
A investigação promovida pelos pesquisadores, inédita em humanos - até então era realizada apenas em animais -, revela que quando há um trauma craniano, ocorre a elevação de algumas substâncias (enzimas) no sangue. Essa constatação possibilita que uma pessoa, ao sofrer um trauma craniano, possa ser submetida a um exame de sangue para detectar o aumento dessas substâncias que funcionam como indicadores para a necessidade de se realizar um exame de tomografia.
Um dos pesquisadores deste grupo é o neurocirurgião e coordenador do setor de Neurologia do HJXXIII, Rodrigo Faleiro. “Se a enzima estiver em níveis normais, ela sugere que o trauma foi de baixa intensidade e não seria necessário fazer a tomografia. Apenas com um exame de sangue, você pode determinar se o trauma foi importante ou não”, explica.
Aplicabilidade
O estudo foi publicado no dia 4/1 na revista “Neurological Sciences”, editada pela Sociedade Italiana de Neurologia, e chama a atenção para o fato de que, apesar de o traumatismo cranioencefálico (TCE) leve ser a maioria dos casos num contexto mundial de quase 70 milhões de ocorrências de TCE por ano, o que o torna um grave problema de saúde pública, ele ainda não recebe a atenção necessária.
Para exemplificar a aplicabilidade dos resultados da pesquisa além do dia a dia da assistência hospitalar, o médico acredita que o exame possa ser usado em jogadores de futebol (e de outros esportes) que apresentem concussão durante uma partida. “Podemos dosar a enzima, se ela estiver aumentada, levaria à necessidade de afastamento por um período, e se estiver normal, o jogador poderia continuar na competição. Isso é só uma das perspectivas que esse estudo abre. Ainda está um pouco longe de se incorporar na rotina do Hospital João XXIII, mas, se em algum momento, o exame de sangue mostrar um custo-benefício interessante, isso pode ser usado na triagem dos pacientes”, conclui o coordenador do setor de Neurologia.