Sistema de Plantio Direto completa 50 anos no Brasil

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O grande salto na produção agrícola brasileira se deve, em boa parte, ao empenho dos produtores e a aplicação de novas tecnologias. No contexto, se destaca o Sistema de Plantio Direto (SPD), que agora em 2022 completa 50 anos de implementação no Brasil. O pioneiro foi o agricultor Herbert Bartz, do Paraná. Visionário, implantou em sua fazenda, em 1972, um sistema de plantio que subvertia completamente a lógica que os produtores brasileiros estavam acostumados, de sempre fazer a aração e gradagem do solo, antes de cada plantio. Ao contrário disso, apostou na cultura de forma direta, mantendo uma cobertura morta e sem esse revolvimento de terra.

“Obviamente, no início eles foram chamados de malucos, porque não havia pesquisa que validasse a tecnologia. Mas eles persistiram e observaram as vantagens econômicas, ambientais e sociais. O plantio direto passou a ser, então, divulgado. Os agricultores passaram a trocar experiências entre si, formando os Clubes Amigos da Terra. Iniciou-se uma segunda fase, com a realização de pesquisas pela Embrapa e institutos estaduais como o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (Iapar), Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), além das empresas de assistência técnica e extensão rural, como as unidades da Emater em outros estados, que também se engajaram nesse processo. A partir daí, a técnica passou a ser difundida”, recorda o engenheiro agrônomo e membro da Federação Brasileira do Sistema de Plantio Direto (Febrapdp), Ronaldo Trecenti.

Ele ainda conta que, a partir de 1992, verificou-se o maior salto do plantio direto no Brasil, com a criação, inclusive, da Federação Brasileira do Plantio Direto na Palha e da Associação do Plantio Direto no Cerrado.

Adequação

Esse sistema de plantio é, antes de tudo, mais adequado à realidade do solo brasileiro. As técnicas preconizadas anteriormente eram inspiradas na prática de países de clima temperado, como os europeus, onde há meses de inverno rigoroso, que congela o solo, fazendo com que seja necessário revolvê-lo com arado e grade, expô-lo ao sol para aquecer e permitir a germinação e o estabelecimento das plantas.

“Nós estamos num país tropical, aqui é diferente. Nós temos temperatura elevada e chuva durante boa parte do ano. Aqui nosso solo precisa de proteção contra a incidência direta da gota de chuva, para evitar a erosão. Então, a palha funciona como um guarda-chuva e guarda-sol. Não há necessidade de revolver o solo aqui para fazer o cultivo, exceto nos anos iniciais, onde a gente faz a correção com uso de calcário, gesso e fertilizantes. Uma vez que se estabeleceu e fez essa correção, a partir daí não precisa mais revolver, se fizer um bom manejo. As plantas vão trabalhar para nós funcionando como um arado biológico”, explica Trecenti.

O pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Emerson Borghi, ainda acrescenta que no sistema tradicional de produção, o revolvimento do solo e a ausência de cobertura fazem com que haja perda de água tanto através da erosão, quanto da evaporação. “Com isso, em período de restrição hídrica as plantas entram em estresse, o que impacta negativamente a produtividade”, reforça. Outro ponto para o qual ele chama a atenção é o fato de no sistema tradicional haver maior incidência de plantas daninhas, o que acaba exigindo maior uso de produtos químicos para esse controle.

Revoluções

Ao longo dos últimos 50 anos, o agro brasileiro passou por quatro grandes revoluções: a abertura do Cerrado, que proporcionou ao país ampliar suas áreas agricultáveis; o plantio direto, responsável por maior produtividade com sustentabilidade; a introdução do milho safrinha, que ampliou a oportunidade de produção do Brasil e, mais recentemente, os Sistemas de Integração Lavoura, Pecuária e Floresta. Na avaliação do coordenador técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), Rogério Jacinto Gomes, nesse cenário, o plantio direto ganha destaque porque é a técnica base quando se pensa em produção sustentável. “É a técnica por meio da qual conseguimos, por excelência, associar a boa produtividade à conservação do solo e da água”, defende.

Por preconizar também a rotação de culturas, o plantio direto ainda colabora para preservação das potencialidades do solo e no controle das pragas e doenças. O pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Ramon Alvarenga, explica que as culturas têm demandas diferenciadas por nutrientes. Com a rotação, há também a redução de pragas naturais da cultura anterior, justamente pela ausência da planta alvo destes patógenos. “É um somatório de pequenos ganhos que fazem a diferença”, salienta.

Outra vantagem é a capacidade de se adaptar a propriedades de diferentes portes, com a disponibilidade no mercado desde grandes máquinas específicas para essa aplicação até plantadeiras de tração animal ou matracas manuais de plantio direto. “Temos uma tecnologia social, que se adapta do grande ao pequeno”, confirma o técnico da Emater, Rogério Jacinto.

O plantio direto representa ainda redução de custos de produção e da emissão de carbono. “Normalmente, no plantio convencional você faz uma aração e até duas gradagens, às vezes subsolagem. No plantio direto você faz essas operações apenas no início do sistema. Quando seu solo já estiver preparado você não precisa mais revolvê-lo e isso evita horas e horas de trator, consumo de combustível. Com isso, as emissões de carbono provocadas por essas operações são muito minimizadas. A gente economiza dinheiro e economiza a pegada de carbono também”, detalha o coordenador técnico da Emater-MG, Sérgio Brás Regina.