Busca ativa nas escolas da rede pública estadual é oportunidade de recomeço para alunos

Estratégias desenvolvidas pelo Governo de Minas reconquistam alunos que estavam fora do ambiente escolar

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Ajudar crianças e jovens alunos de escolas públicas a superar as dificuldades impostas para continuidade dos seus estudos sempre foi uma prioridade da atual gestão estadual. Antes mesmo da pandemia da covid-19, que levou à suspensão das aulas presenciais, a Secretaria de Estado de Educação (SEE/MG) já vinha desenvolvendo estratégias para proporcionar oportunidades para que alunos ausentes ou em vias de abandono voltassem à rotina escolar. 

Desde 2019, a principal ação desenvolvida pelas escolas da rede estadual de Minas Gerais com essa finalidade é a busca ativa, medida apontada por especialistas como a forma mais importante de trazer esses estudantes de volta. A iniciativa tem apresentado resultados expressivos na redução das taxas de abandono escolar no estado. Para 2021, as unidades de ensino já receberam orientações da SEE/MG para começar mais uma campanha de busca ativa na rede.

No primeiro ano da ação, em 2019, o esforço dos gestores fez com que 15 mil alunos retornassem às escolas estaduais. Os dados do Censo Escolar desse mesmo ano, coletados e divulgados anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostraram que Minas Gerais foi o terceiro estado do país com maior queda nas taxas de abandono escolar no ensino médio, com redução de 3.5 pontos percentuais, atrás apenas do Paraná e da Paraíba, empatados com queda de 3,8%. No ensino médio, a taxa de abandono saiu de 8,8%, em 2018, para 5,3%, em 2019. No ensino fundamental, caiu de 2% em 2018 para 1,1% em 2019. 

Ampliação

Com o desenvolvimento do Regime de Estudos não Presencial, em 2020, essas medidas foram ampliadas e resultaram no retorno de 30 mil alunos à rotina escolar. A partir de acompanhamento sistêmico, as escolas estaduais intensificaram as ações direcionadas de busca dos alunos que não estavam participando ativamente das atividades remotas, com estratégias como ligações para famílias e estudantes, envio de mensagens por aplicativo e visitas às residências dos alunos, sempre com os cuidados sanitários necessários.

De acordo com o subsecretário de Articulação Educacional, Igor de Alvarenga, todas as ferramentas desenvolvidas para o ensino remoto - o Plano de Estudo Tutorado (PET), o aplicativo Conexão Escola 2.0 e o programa Se Liga na Educação - se interligam para que, mesmo com a suspensão das aulas presenciais, seja garantido aos alunos da rede estadual o vínculo com o ambiente escolar. 

“Essas ferramentas visam garantir o direito de todos à Educação, oferecendo uma oportunidade de continuar nos estudos, mediante a adaptação que tivemos que fazer para o ensino remoto, com estratégias diversas de acesso”, afirma. O subsecretário destaca, nesse processo, a implantação do Sistema de Gestão Escolar, em que é feito um acompanhamento de entrega e acesso dos alunos aos materiais de ensino remoto. 

"Esse sistema permitiu que diretores e diretoras de escola acompanhassem nominalmente a situação de cada aluno e soubessem quais estavam em vias de deixar os estudos por questões estruturais ou por causa do distanciamento da escola. Foi feita uma busca desses estudantes, com o apoio da rede de proteção social básica, possibilitando o retorno de forma ativa de 30 mil alunos às atividades não presenciais", explica Alvarenga. 

Isadora Rodrigues da Silva / Arquivo pessoal

Retorno às aulas

As dificuldades durante a pandemia afastaram Isadora Rodrigues da Silva, aluna do 1º ano do ensino médio de tempo integral da Escola Estadual Francisco Tibúrcio de Oliveira, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Segundo ela, a falta de entendimento do conteúdo no momento de fazer as atividades estava a desestimulando. Ela conta que, desde 2020, vem sendo constantemente acompanhada pela equipe da escola e só voltou para as aulas por causa da ação da unidade de ensino.

“Ano passado eu estava com atividades atrasadas e eles fizeram contato comigo. Este ano, nem tinha começado a fazer, estava desistindo da escola, mas me procuraram e entregaram as atividades. Aí, voltei a participar”, relata. A aluna diz, ainda, que tem sido bem acompanhada pelos professores e aguarda ansiosa pelo retorno presencial, porque, assim, se sente mais motivada.

A realidade de Isadora tem afetado muitos outros alunos pelo país. Estudo divulgado pelo Unicef, com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Covid-19), feta em outubro de 2020 pelo IBGE, mostra o impacto da pandemia na vida escolar de crianças e jovens brasileiros. Apesar de todas as dificuldades impostas, Minas tem apresentado indicadores mais favoráveis do que a média brasileira. Segundo o levantamento, é o estado com o menor percentual de crianças e adolescentes de 6 a 17 anos que não frequentavam a escola, seja em ensino presencial e/ou remoto, durante a pandemia. A taxa é de 2%, a mesma de Sergipe - estado com uma rede de ensino 11 vezes menor que a de Minas. A média nacional foi de 4%.

Dedicação e estratégia

De acordo com a diretora da Escola Estadual Francisco Tibúrcio de Oliveira, Zilma da Silva Gusmão, as estratégias desenvolvidas pelo Estado e o constante empenho da equipe da unidade de ensino foram o diferencial para fazer com que nenhum aluno abandonasse o aprendizado. Ela conta que o público da escola é muito diverso, atendendo a moradores de ocupações nas redondezas, mas que o conhecimento e a boa relação com a comunidade, aliados às estratégias, garantiram o apelo local. 

“Uma das ações que usamos aqui é o carro de som. Um dos nossos professores faz a vinheta e anunciamos a entrega dos PETs e das atividades. O resultado é muito positivo, porque a comunidade percebe a preocupação e o cuidado da escola com eles”, conta, acrescentando que até carreata os professores fazem em datas especiais.

Zilma destaca que são feitas estratégias de contato também usando redes sociais, grupos de troca de mensagens e o novo aplicativo Conexão Escola 2.0, que possibilita interação e contato mais direto entre professores e alunos. “Conseguimos acompanhar e alcançar todos com essas ferramentas. Vira uma corrente, porque os próprios alunos que estão nos grupos chamam os colegas e vão interagindo entre si”, explica.

Joyce Cristiane Batista Lima / Arquivo pessoal

Acolhida importante

Foi justamente no Regime de Estudo não Presencial que Joyce Cristiane Batista Lima, aluna da Escola Estadual São Sebastião, em Varginha, no Sul de Minas, encontrou a oportunidade de voltar à escola. A gravidez e a dificuldade no percurso de casa, na área rural, até a escola comprometeram seu empenho, levando ao abandono. Ela conta que após os nascimentos das duas filhas, começou a trabalhar, o que a afastou ainda mais do ambiente escolar. Contudo, agora, com as crianças mais crescidas, a vontade de retornar aos estudos se intensificou. 

Joyce destaca que, ao manifestar o interesse em voltar à escola, foi rapidamente acolhida. “Quando vi que dava para estudar, mesmo de casa, fiquei motivada”, diz a estudante, que se comprometeu a continuar, mesmo quando as aulas presenciais forem retomadas. Ela conta que a vice-diretora da escola, chamada por ela de ‘Lurdinha’, fez toda a diferença. “Ela me apoiou muito, foi minha professora naquela época, sempre me incentivando”, lembra. “Tem que voltar e lembrar de tudo que você estudou. Agora com certeza vou concluir meus estudos”, promete. 



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