Maternidade Odete Valadares é reconhecida por trabalho com bebês prematuros

Instituição recebeu prêmio internacional em conferência sobre o Método Canguru

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Karina Maria dos Santos da Costa Ferreira - Arquivo pessoal

Referência estadual em gestação de alto risco, a Maternidade Odete Valadares (MOV), da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), alcançou o primeiro lugar na 13ª Conferência Internacional do Método Canguru, com estudo que revela a contribuição de sua Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru (Ucinca) para a ressignificação da prematuridade. A cerimônia ocorreu em Madri, Espanha, em novembro.

O trabalho que concorreu à premiação foi baseado em pesquisa desenvolvida há três anos pela equipe da maternidade, que avaliou os prontuários de recém-nascidos admitidos na Ucinca de abril a outubro de 2019. Em março de 2022, os pais que participaram dessa pesquisa foram convidados a enviar um breve áudio para responder a um roteiro destinado a avaliar os sentimentos experimentados durante o período em que seus filhos estiveram internados. A partir desses relatos, os dados foram processados por um software que cria nuvens de palavras. A pesquisa demonstrou a mudança de paradigma dos pais, ao evidenciar os sentimentos experimentados antes e após a vivência na Ucinca.

"Na nuvem aparecem em destaque as palavras 'esperança' e 'gratidão', sendo esta última dirigida ao coletivo (equipe do hospital, outros pais e famílias), o que nos fala da importância de tecer uma rede eficaz de apoio", pontua a neonatologista pediatra e tutora do método, Gláucia Maria Moreira Galvão.

Como ainda sublinha a neonatologista, a pesquisa evidencia como a Ucinca se constitui numa “ferramenta terapêutica fundamental para o manejo adequado da prematuridade, e para a recuperação da saúde e do bem-estar de todo o núcleo familiar”.

Além de Gláucia, o estudo tem a autoria da psicanalista Érika Maria Parlato de Oliveira e das médicas Rebeca Pagliaminuta Viana e Kênia da Silva Costa.

Mudança de paradigma

Gláucia chama atenção para o fato de que a Ucinca promove uma verdadeira revolução na forma como os pais atribuem significado ao seu papel na saúde do prematuro, ao possibilitar que, efetivamente, cuidem do recém-nascido com a ajuda da equipe de profissionais da unidade.

As ações empreendidas no contexto da Ucinca possibilitam que os pais se vejam como sujeitos ativos do processo de construção da saúde de seus filhos, além de fortalecer e amplificar a importância das redes de apoio.

“É de fundamental importância que políticas públicas na saúde perinatal e na área da infância tenham como estratégia de cuidados o planejamento de ações visando o fortalecimento das redes de apoio”, reitera a pesquisadora.

 

Juliana da Silva Alves Sant’Ana - Arquivo pessoal

Impacto

A Maternidade Odete Valadares realiza em torno de 350 partos por mês, sendo 11% de prematuros e de baixo peso, para os quais é indicado o Método Canguru. Considerando esse quantitativo e os 21 anos de adoção do método pela instituição, pode-se ter uma ideia do impacto dessas ações para a vida das quase 10 mil crianças atendidas e de suas famílias.

A autônoma Juliana da Silva Alves Sant’Ana, de 38 anos, mãe da Mariana, de 3 anos, conta que ficou desesperada ao saber que sua filha nasceria prematuramente, com 32 semanas de gestação.

“Tive um parto natural e ela foi direto para a UTI. No sexto dia, recebi o convite para cuidar da minha filha na Ucinca. Foram 23 longos dias de aprendizado e de fortalecimento psicológico, pois a cada momento era um sentimento diferente. Em casa, mantive os cuidados que aprendi. O Canguru foi uma escola, vou levar o que aprendi para o resto da vida”, garante.

Karina Maria dos Santos da Costa Ferreira, dona de casa, de 33 anos, mãe do Victor Gustavo, de 5 anos, e da Hannah Victoria, de 3 anos, viveu experiências semelhantes, com prematuros de 32 e 29 semanas respectivamente.

“O impacto da Ucinca para a qualidade de vida dos meus filhos é algo inimaginável. O atendimento que recebemos mudou completamente minha forma de ver a prematuridade. A Ucinca nos segura pelas mãos e nos mostra como dar os primeiros passos fora dali. Mesmo quando tudo ao seu redor parecer desmoronar, apenas deite seu bebê junto ao seu peito, acalme seu coração, sentindo as batidas do coraçãozinho dele, e por mais assustada que você esteja nesse momento, tenha certeza de que tudo vai passar e que restarão apenas lembranças e aprendizado”, ensina Karina.

Versão brasileira

Referência estadual para o Método Mãe Canguru, a Maternidade Odete Valadares é certificada pelo Ministério da Saúde e suas tutoras são responsáveis pela formação dos demais tutores em Minas Gerais.

De acordo com Gláucia, o Ministério da Saúde aborda o Método Canguru como uma proposta de atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso e não só o contato pele a pele, inicialmente proposto na Colômbia, onde a prática foi criada. A abordagem brasileira é uma mudança de postura em favor da humanização. A partir de 2022, o método passou a beneficiar todo recém-nascido, inclusive os nascidos a termo.

“Uma premissa básica do Método Canguru, no Brasil, é que a atenção e o cuidado ao recém-nascido na unidade neonatal tenham como meta seu desenvolvimento harmonioso e global. Para isso, o uso do cuidado individualizado e contingente, presente na interlocução dos saberes da equipe multidisciplinar, vem sendo preconizado pelas políticas públicas, apoiadas nos resultados alcançados pelas unidades neonatais", resume a médica.



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